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APOCATÁSTASE E OS MITOS APOCALÍPTICOS DA DESTRUIÇÃO / JOÃO SCORTECCI

Na obra História universal da destruição dos livros: das tábuas sumérias à guerra do Iraque, do escritor, ensaísta, licenciado em Educação, doutor em Biblioteconomia e diretor da Biblioteca Nacional da Venezuela, Fernando Báez, encontrei, no "Prólogo", a seguinte observação: “Em busca de uma teoria sobre a destruição de livros, descobri, por acaso, que são abundantes os mitos que relatam cataclismos cósmicos para explicar a origem ou anunciar o fim do mundo. Observei que todas as civilizações entendem sua origem e seu fim como um mito de destruição, contraposto ao da criação, num modelo cujo eixo é o eterno retorno. A apocatástase – volta a um estado ou condição anterior ou inicial – tem sido um recurso para defender o fim da história e o início da eternidade.” Destruição e criação parecem ser, além da existência e da própria sobrevivência, as duas únicas alternativas do universo humano. Voltando ao “Prólogo” do livro do venezuelano Fernando Báez sobre a sistêmica roleta de destruição dos livros: “Alguns porque acreditavam que, eliminando os vestígios do pensamento de uma determinada época, estariam promovendo a superação do conhecimento humano. Outros, mais modestos, lançavam ao fogo suas obras simplesmente por vergonha do que haviam escrito. No entanto, os principais destruidores de livros sempre tiveram como maior motivação o desejo de aniquilar o pensamento livre. Os conquistadores atribuíam à queima da biblioteca do inimigo a consagração de sua vitória.” Fernando Báez foi declarado “persona non grata” pelas autoridades dos Estados Unidos da América do Norte, por causa da publicação de seu livro em que denuncia a destruição, após a ocupação norte-americana do Iraque, do sítio arqueológico de Campo Alfa e de vários fragmentos de cerâmica, parte registrada em argila de textos da cultura babilônica.

João Scortecci