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WALT WHITMAN E O POEMA SEM-FIM / JOÃO SCORTECCI

Versos imitando os ritmos da fala! O poeta, jornalista e impressor estadunidense Walt Whitman (1819 – 1892) é considerado por muitos como o pai do verso livre. Entre 1842 e 1844, editou o jornal diário Aurora e o Evening Tatler. Durante um ano, escreveu para o Long Island Star, tornando-se – em seguida – editor do The Brooklyn Daily Eagle, posição que ocupou de 1846 a 1848. Editou também o The Brooklyn Freeman, entre 1848 e 1849, e, no ano seguinte, montou uma tipografia e uma papelaria. Em julho de 1855, publicou a primeira edição de Leaves of grass (Folhas de relva), impressa na gráfica Rome Brothers de Brooklyn, de propriedade dos gráficos e imigrantes escoceses Andrew e James Rome e cujos custos de edição Whitman pagou. Leaves of grass é considerado um marco na literatura universal. Os versos dos poemas são livres, longos e brancos, imitando os ritmos da fala. Uma curiosidade: o livro teve oito edições e foi revisto e ampliado várias vezes. Uma obra – eternamente – inacabada! A primeira edição foi publicada em 1855, sem o nome do autor e com apenas 12 poemas e um prefácio. A segunda edição ganhou o seu nome na capa e um total de 32 poemas. Entre eles, o poema "Canto de mim mesmo". A terceira edição – já com 154 poemas – foi publicada em 1860. Em 1861, a editora foi à falência, e a obra de Whitman foi pirateada. Em 1867, com oito poemas novos, saiu a quarta edição de Leaves of grass. A quinta edição foi publicada em 1870, com uma segunda tiragem em 1971, que incluía "Passagem para a Índia” e mais 71 poemas, alguns dos quais inéditos. Em 1876, foi publicada a sexta edição, em dois volumes. A sétima edição, publicada em 1880, não foi distribuída, pois foi recolhida por ordem do promotor público, que a julgou imprópria. Essa edição só foi retomada em 1882 e com a inclusão de 20 poemas inéditos. A oitava edição foi publicada em 1889. Quando Walt Whitman preparava nova edição do livro, morreu por causa de uma pneumonia, em 26 de março de 1892. Vivi drama semelhante com o livro de poemas A morte e o corpo (1984). A cada nova edição – foram muitas – excluía poemas, incluía novos e reescrevia outros. Uma obra inacabada! Na quinta edição, frustrado e inconformado por não conseguir concluí-la a gosto, escrevi e publiquei na última página do livro uma nota de – quase – conformismo: “Dilema literário para não julgar. Fazer da vida o poema sem-fim.” Feito isso, confesso, encontrei uma inquieta paz. A poesia sempre vence! Ao longo de 50 anos trabalhando com livros, a máxima ganhou várias versões, entre as quais: “Viver é fazer da vida um poema sem-fim!” Mais recentemente, no ano de 2022, tornou-se – por enquanto, quem sabe – uma sentença: “Faço da minha vida de livros um poema sem-fim.” 

João Scortecci