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DUAS HISTÓRIAS: ASTROJILDO PEREIRA, O PCB E O BRUXO MACHADO DE ASSIS / JOÃO SCORTECCI

Primeira história – O escritor e jornalista Astrojildo Pereira (Astrojildo Pereira Duarte Silva, 1890 – 1965), nasceu na cidade de Rio Bonito/RJ. Foi anarquista, comunista e um dos fundadores do PCB – Partido Comunista Brasileiro, eleito secretário-geral do Partido, em março de 1922. Mudou-se, ainda adolescente, para Niterói e aos 15 anos de idade abandonou os estudos – na 3ª. série do ginásio – com a justificativa que, ali, não lhe ensinavam o que gostaria de fato de aprender, de modo a se dedicar ao que ele mesmo apelidou de "autodidatismo arquiatabalhoado". Em 1908, trabalhou como operário gráfico e no Ministério da Agricultura. Em 1911, fez uma viagem à Europa Ocidental, onde teve contato com os ideais anarquistas. Entre 1919 e 1921, afastou-se do anarquismo e se aproximou dos ideais comunistas. Em 1913, promoveu o II Congresso Operário Brasileiro, realizado entre 8 e 13 de setembro, na sede da COB – Confederação Operária Brasileira, na Rua dos Andradas, n. 87, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Em 1918, participou da frustrada insurreição anarquista, no Rio de Janeiro, evento inspirado na Revolução Russa, com o propósito principal de derrubar o governo central brasileiro, foi preso e solto, no ano seguinte. Em 1927, representando o PCB, entrou em contato com o militar e político comunista Luís Carlos Prestes (1898 – 1990), então exilado na Bolívia, ocasião em que lhe passou farta literatura marxista. Em 1928, durante o VI Congresso da Internacional Comunista, Astrojildo Pereira foi eleito para o seu Comitê Executivo. Viveu na Rússia entre 1929 e 1930, retornando ao Brasil com a missão de "proletarizar" o PCB. Em novembro de 1930, foi afastado da Secretaria Geral do Partido. Em 1931, pediu desfiliação do PCB e passou a se dedicar à profissão de jornalista e crítico literário.  Retornou ao PCB em 1945, passando a colaborar com as publicações do Partido. Após o golpe militar de 1964, foi preso por três meses, até janeiro de 1965. 

Segunda história – Em 1908, quando da morte do escritor e Acadêmico Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis, 1839 – 1908), por quem Astrojildo Pereira tinha fascínio e admiração, um acontecimento inusitado, que permaneceu incógnito durante muitos anos, marcou profundamente sua vida. Quando soube do agravamento da saúde do “Bruxo do Cosme Velho– apelido dado pelo crítico literário gaúcho Moysés Vellinho (1902 – 1980) e popularizado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987), no poema “Ao bruxo, com amor” (1958) –, Astrojildo largou o que estava fazendo e rumou para a casa do escritor, no bairro do Cosme Velho. Tinha, na época, 17 anos de idade. Bateu à porta e entrou, sem ser anunciado. Escritores e amigos de Machado, reunidos, aguardavam pela sua morte. Astrojildo, então, entrou no quarto onde estava acamado Machado de Assis e segurou sua mão. E, ali, aos olhos de todos, despediu-se de seu ídolo. Tal episódio fez Astrojildo Pereira, no dia seguinte, escrever o artigo "A última visita", refletindo sobre o falecimento do escritor. Tal episódio só foi revelado, anos depois, pelo próprio Astrojildo Pereira, quando assumiu publicamente que aquele garoto misterioso era ele. O acontecimento o marcou profundamente, levando-o, mais tarde, em 1959, a escrever e publicar o livro “Machado de Assis: ensaios e apontamentos avulsos.” Publicou, em vida, ainda, mais quatro livros: “URSS, Itália, Brasil” (1935), “Interpretações” (1944), “Formação do PCB” (1962) e “Crítica impura” (1963). Astrojildo Pereira faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 20 de novembro de 1965, aos 75 anos de idade.

João Scortecci