O leitor de livros é um sujeito estranho. Diferente? Talvez. Esquisito. Fora do padrão. Algo assim. No dicionário, a palavra “padrão” significa “modelo a ser seguido”. Confesso: não gosto do seu significado. Acho maçante, tedioso e enfadonho. Meu avô paterno dizia, sempre: “’Quem balança o rabo é cachorro!”. Desconfio de tudo que é padrão, definitivo, fechado no quadrado. Mas a palavra padrão serve – na falta de outra melhor – para definir tudo que um leitor não é. Ponto. Salvei o arquivo na área de trabalho e lá ficou. Hoje, preparando uma apresentação para uma palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), sobre o leitor de livros e o hábito de leitura, resgatei o texto. Quem guarda tem! Salvei-o do lixo! Resmunguei. Na verdade, foi ele – pacientemente – que me salvou. Estranho. Ou melhor: esquisito! Conheço leitores. Muitos. Minha profissão de editor e gráfico ajuda. Faz parte! Minha mãe Nilce foi a primeira leitora voraz que conheci. Minha avó materna, Maria Aparecida, um dia, contou-me o segredo: “Apagávamos as luzes do quarto e ela, escondida, acendia uma vela!”. Risos. Li e reli o que já havia escrito. Dá para aproveitar! Foi o que fiz e aqui estou. Nas duas últimas bienais do livro de São Paulo (2024) e do Rio de Janeiro (2025), o público compareceu, prestigiou e entrou, literalmente, na fila de autógrafos. Ambas foram um tremendo sucesso! Um amigo livreiro, no pé do ouvido, confessou: “Já imaginou esse público todo visitando as livrarias?”. Risos. Seria o máximo, sussurrei pensativo, algo fora do padrão! Aqui com os meus encadernados: por que esse público todo de leitores, compradores de livros, não frequenta as livrarias? Mistério. Juro que não sei. Já escutei mil explicações, mas, até agora, nenhuma razão fora do padrão. Fechei, então, o arquivo e o abri novamente. Releitura. Corrigi um erro de espaço, apaguei um trema que não existe mais e me perdi, no silêncio das razões, refletindo sobre o que o amigo livreiro havia me dito ao pé do ogro das palavras. O leitor de livros é um sujeito feliz e estranho. Acende velas, conversa com o imaginário e – vez por outra – dorme amasiado com um livro no leito de morte.
João Scortecci