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“OS ÓCULOS DO VOVÔ” E A VISÃO EDITORIAL DO FILÓSOFO MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS / JOÃO SCORTECCI

Os óculos do vovô é o mais antigo filme mudo de ficção brasileiro, ainda preservado. Lançado em 1º. de maio de 1913, o curta-metragem – com duas partes e duração de 15 minutos – foi dirigido e roteirizado pelo empresário teatral português Francisco Santos (Francisco Dias Ferreira dos Santos, 1873 – 1937), e produzido pela Guarany Fábrica de Fitas Cinematográficas, no Parque Souza Soares, na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, onde Francisco Santos se estabeleceu com sua companhia teatral itinerante. Nos anos 1970, foram resgatados fragmentos do filme, possibilitando recuperar uma versão com pouco mais de quatro minutos. No filme, é narrada de forma simples e divertida a história de um menino traquinas, que pinta as lentes dos óculos de seu avô, enquanto ele dorme. Ao acordar, o homem pensa ter ficado cego, criando uma série de confusões na casa. Francisco Santos interpretou o personagem avô, e o neto foi interpretado por Mário Ferreira dos Santos (Mário Dias Ferreira dos Santos, 1907 – 1968), que veio a se tornar um dos mais importantes filósofos, tradutores e escritores brasileiros. Criou o próprio sistema de “Filosofia concreta”, em que propõe uma compreensão unificada da realidade, formulada com rigor matemático, em diálogo com os achados da ciência contemporânea e fundamentando as positividades concebidas pela tradição. Mário Ferreira dos Santos foi um anarquista convicto, um dos poucos estudiosos brasileiros do chamado “anarquismo cristão”. Participou ativamente do CCS - Centro de Cultura Social, um dos mais importantes núcleos anarquistas de São Paulo, fundado em 1933 por militantes libertários e anarquistas e que funciona até hoje, apesar dos intervalos em que funcionava clandestinamente, depois de fechado pela repressão estatal. As atividades foram retomadas oficialmente em 14 de abril de 1985, durante o processo de redemocratização do País. Mário Ferreira dos Santos cursou Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde se formou em 1930. Escreveu para jornais da cidade de Pelotas e no Diário de Notícias e no Correio do Povo, ambos de Porto Alegre, capital gaúcha. Como jornalista, participou da Revolução de 1930 e foi preso por causa de suas críticas ao então novo regime. No início dos anos 1940, foi contratado como tradutor pela Livraria do Globo, em Porto Alegre. Em 1945, mudou-se para a cidade de São Paulo e continuou o trabalho como tradutor na Editora Flama. Com dificuldades para publicar seus livros, fundou suas próprias editoras, a Logos S.A. e a Matese S.A. Foi pioneiro no sistema de venda de livros a crédito, de porta em porta, e um dos visionários da ABDL – Associação Brasileira de Difusão do Livro, fundada em 27 de outubro de 1987, entidade que congrega o setor porta a porta ou venda direta de livros. Mário Ferreira dos Santos, o intérprete do menino traquinas, além de filósofo, tradutor de clássicos da filosofia e escritor, foi um homem de visão editorial, que concretizou, na cadeia criativa, produtiva e distributiva do livro, seus princípios libertários: “A cultura é livre por sua natureza, vence o tempo, vence as contingências, vence o preconceito.”

João Scortecci

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