Pesquisar

Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta “ULISSES”, DE JAMES JOYCE: BLOOMSDAY E MOLLYSDAY. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta “ULISSES”, DE JAMES JOYCE: BLOOMSDAY E MOLLYSDAY. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

"ULISSES”, DE JAMES JOYCE: BLOOMSDAY E MOLLYSDAY / MARIA MORTATTI

O Bloomsday, comemorado em 16 de junho, foi instituído na Irlanda e disseminado em outros países, para homenagear Leopold Bloom, protagonista do romance Ulisses (1922), de James Joyce (1882 –1941), que integra lista dos 100 melhores do século XX, segundo o jornal francês Le Monde. Em 18 episódios, são narrados os acontecimentos vividos por Leopold (na companhia de Stephen Dedalus), pelas ruas da cidade irlandesa de Dublin, entre a manhã do dia 16 de junho de 1904 e a madrugada do dia seguinte. Acusado de pornográfico e proibido de circular por anos na Inglaterra e nos Estados Unidos da América do Norte, Ulisses se tornou um marco da literatura ocidental contemporânea – especialmente pelas inovações no estilo e na técnica narrativa do fluxo de consciência e o labirinto de referências literárias e bíblicas – e exerceu influências sobre escritores desde sua época, até os dias atuais.

Baseado no poema épico Odisseia, do poeta grego Homero (928 a.C. – 898 a.C.), o herói de Ulisses, Leopold Bloom, depois de preparar o café da manhã para a esposa, Marion (Molly) Bloom, vaga pela cidade, dividido entre voltar para casa e impedir o encontro de Molly com seu parceiro de apresentação musical, ou adiar o retorno, para encontrá-la já dormindo. No célebre monólogo no último capítulo – “Penélope” –, ao longo de dezenas de páginas, ouve-se, afinal, a voz de Molly. Deitada ao lado do Bloom, depois que ele e o narrador saem de cena, encenando para si em fluxo de consciência, Molly relembra sua vida, suas decepções, seus desejos afetivos e sexuais, o adultério como espécie de vingança por não se sentir amada. O protagonismo de sua ausência presente durante toda a narrativa se revela, então, como metáfora dos fios da tessitura do lugar central e ambíguo da solitária condição feminina. É Molly, em um dos mais dramáticos monólogos da literatura, quem encerra a trama, com a decisão de não afundar na melancolia e retomar a escolha por aquele que, adormecido ao seu lado, não podia ouvi-la: "(...) e primeiro eu pus os meus braços em torno dele sim e eu puxei ele pra baixo pra perto de mim pra ele poder sentir os meus peitos só perfume sim e o coração dele batia que nem louco e sim eu disse sim eu quero Sim." [1]

Em 2022, completaram-se 140 anos de nascimento de Joyce e os primeiros 100 anos de publicação dessa obra-prima da literatura universal, que revolucionou o romance moderno. Comemorou-se também o centenário de nascimento da pesquisadora e tradutora Bernardina da Silveira Pinheiro (1922 – 2021), primeira mulher a traduzir Ulisses na América Latina. Como advertiu o escritor irlandês, a complexidade de seu romance manteria professores ocupados e por muitos séculos. O protagonismo de Molly Bloom é um dos enigmas do livro a ser ainda mais bem compreendido. E, para iniciar o segundo século de estudos sobre a obra, já é hora de homenagear também a ela no dia 16 de junho. Bloomsday é também Mollysday. Sim.

Maria Mortatti

_________________

[1] Da tradução de Antônio Houaiss, pela Civilização Brasileira, 1982.

Ler Mais