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JORGE MIGUEL MARINHO: A HISTÓRIA QUE TECEMOS / MARIA MORTATTI

Jorge Miguel Marinho (08.07.1947 – 18.06.2019), nascido no Rio de Janeiro e radicado na cidade de São Paulo, foi escritor, dramaturgo, roteirista, ator e professor de literatura. De origem humilde, tornou-se leitor tardiamente, quando uma namorada de juventude lhe deu de presente um exemplar de O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Cursou a graduação em Letras e o mestrado na Universidade de São Paulo. Sua obra literária com mais de 30 livros, por diferentes editoras e durante quase cinco décadas, é variada, mas com foco nos leitores jovens. Entre seus livros, estão os premiados Te dou a Lua amanhã, Prêmio Jabuti – 1994, e Lis no peito – um livro que pede perdão, Prêmio Jabuti – 2006, ano em que esse livro recebeu também: o Prêmio Orígenes Lessa de Melhor Livro Juvenil do Ano e o selo Altamente Recomendável, (ambos da FNLIJ – Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil), o Selo White Ravens (Biblioteca de Munique) e integrou o Catálogo da Feira do Livro Infantil de Bologna. Em 2017, foi agraciado com o hors concours pela FNLIJ.

Desde que nos conhecemos no final dos anos 1980, conversávamos muito sobre a vida, literatura, nossa produção literária e também sobre nosso ofício de professores de literatura. Eu morava em Campinas/SP, e ele, na capital paulista. Algumas vezes nos encontramos presencialmente em eventos de leitura e literatura, como no Congresso de Leitura – COLE, e na FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo, onde ele prestava assessoria e eu estive como palestrante. Mas trocamos endereços e telefones (fixos, naquela época, de casa e do trabalho) e conversávamos muito, mesmo à distância. Em uma tarde de outono de 1989, dois anos antes de eu me mudar de Campinas para mais longínquo interior paulista, fui visitá-lo em seu apartamento, na Rua Teodoro Sampaio, n. 1704, no bairro Pinheiros, na capital paulista. Recebida carinhosamente por ele e por América, sua esposa, conheci seu escritório e passamos uma tarde inesquecível conversando sobre a vida, seus filhos, Tiago e Anaí, e literatura.

Ele me presenteava com seus livros. Eu os lia e comentava. Assim, nossa interlocução foi sendo incorporada aos seus escritos e aos meus também, como em meu livro Em sobressaltos: formação de professora (1991) e nos poemas até então inéditos. Com sua imensa generosidade, assim ele escreveu na dedicatória do exemplar de seu livro Na curva das emoções (1989), com que me presenteou em 1990: “(...) o carinho daquele telefonema seu ‘foi tudo o que esperei da alegria’ para este livro. Por isso, ele agora (...) só deseja a virtualidade de sua leitura. (...) uma das razões pelas quais escrevo é uma atitude de escuta – urgente e necessária – voltada para pessoas literalmente sensíveis como você. As sugestões e aquele bilhete sobre meu livro ‘A visitação do Amor’ são felizes indicações guardadas dentro de mim.” Além dessas honrosas referências à nossa amizade, Jorge me proporcionou a alegria de me incluir entre as mulheres a quem dedica seu livro Mulher fatal (1996).

Jorge foi um dos primeiros leitores de meus poemas, quando eu nem planejava publicá-los. Ele lia, comentava e aconselhava: “Publique!” Demorei a seguir seu conselho. Talvez por desvios de rota. Meu primeiro livro de poesia, Breviário amoroso de Sóror Beatriz (Patuá, 2019), com muitos ou quase todos os poemas que ele conhecia, foi publicado 30 anos depois daquela visita em seu apartamento. Entrei, então, em contato por e-mail para lhe dar a boa notícia – finalmente – e convidá-lo para a sessão de lançamento, em 19.05.2019. Estranhei o silêncio. Foi América quem respondeu: ele estava hospitalizado e sem acesso ao computador. Ela disse que transmitiria o convite e confirmou o endereço. Enviei um exemplar com uma dedicatória de agradecimento e retribuição pela escuta e amizade. 

Não deu tempo de ele ler aquele livro nem os demais que venho publicando, desde 2020, pela Scortecci Editora, que ele foi o primeiro a visitar – na Galeria Pinheiros, Rua Teodoro Sampaio, n. 1.704 –, antes mesmo da inauguração em 13 de agosto de 1982, como recorda o escritor, editor, gráfico e livreiro João Scortecci. Jorge faleceu um mês depois do lançamento de meu primeiro livro de poesia. Senti sua falta. Mas seu vaticínio não foi em vão. Assim ele escreveu em 1988, na dedicatória no exemplar de A visitação do amor: “Para a amiga, com quem ainda vou tecer uma história.” Tecemos. E a história continua nas lembranças de nossa amizade e, sobretudo, na obra de Jorge Miguel Marinho.

Maria Mortatti

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