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NOSSA SENHORA DO DESTERRO E O "MANEZÊS" / JOÃO SCORTECCI

"Madonna degli Emigrati" (“Nossa Senhora do Desterro” ou “Nossa Senhora da Fuga”) é um título católico atribuído à Santíssima Virgem Maria. Representa a fuga da Sagrada Família para o Egito. Padroeira daqueles que foram obrigados a deixar sua pátria para se refugiarem ou trabalharem no estrangeiro. Por volta de 1675, o colonizador e capitão-mor da capitania de São Paulo, Francisco Dias Velho (1622 – 1687), iniciou, com sua família e agregados, a povoação da ilha de Santa Catarina, fundando o povoado Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina). Desterro pertencia à vila de Laguna, capitania de São Paulo até 1738, e desempenhava importante papel político na região. Em 1687, Francisco Dias Velho – em nome da Fazenda Real Portuguesa – prendeu na ilha parte da tripulação de um barco pirata, que contrabandeava prata. Um ano mais tarde, os piratas, que haviam escapado do cerco, voltaram e destruíram o povoado, matando o capitão-mor. Terminou assim, tragicamente, em 1689, a povoação de Dias Velho. Em 1712, chegou ao antigo povoado o engenheiro militar, botânico e cartógrafo francês Amédée-François Frézier (1682 – 1773), lá encontrando cerca de 150 pessoas, chefiadas pelo lisboeta Manoel Manso de Avelar. A povoação de Desterro foi elevada à categoria de vila, em 1726. Devido à sua localização estratégica para o domínio português no Brasil-Colônia, a ilha passou a ser ocupada militarmente, sob o comando do brigadeiro José da Silva Paes, que construiu, em torno dela, quatro fortalezas e, mais tarde, as "armações" para pesca da baleia, cujo óleo era comercializado pela Coroa Portuguesa. O dialeto florianopolitano, popularmente conhecido como “manezês”, é a forma da língua portuguesa usada pelos nativos de Florianópolis. O dialeto – até hoje – é de uso comum nos municípios vizinhos à capital catarinense. Esse falar é fruto da união do Português dos açorianos, que chegaram em 1748, e, em menor número, dos madeirenses que chegaram no final do século XVIII. Os indígenas e africanos também contribuíram para a sua formação. O “manezês” não é um falar uniforme e tem variações de acordo com a comunidade e a geração dos falantes. As principais características são a rapidez ao pronunciar as palavras, uso frequente do diminutivo, repetição dos pronomes e dos adjetivos interrogativos ao fim de uma pergunta, para indicar ênfase, surpresa ou indignação, e repetição do sujeito ao final de uma oração, também para ênfase: “Quando é que ele fez isso, quando?”, “Onde é que ela tá agora, onde?”, “Por que que ela falou aquilo, por quê?”, “Quem que quebrou a janela, quem?”, “O meu pai trabalha com madeira, meu pai”, “A minha mãe tem asma, minha mãe”. Eis algumas palavras do "Dicionário de manezês": “abobado” (“bobo”), ”baita” (”legal”), ”istimada” (”estimada”), ”mazanza” (”pessoa lenta”), ”tanso” (”pessoa tola”), ”arenga” (”fala”, ”discurso”), ”corricar” (”andar de um lado para o outro”); ”istepô” (”sujeito mala”, ”chato de galocha”), ”cagaçu” (”susto”); ”matassi a pau” (”acertou em cheio”), ”uma naba” (”dificuldade pela qual uma pessoa passa na vida”), ”não rene! ” (”não faça birra”).

João Scortecci
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