Pesquisar

Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta ROSA MARIA, A PRIMEIRA ESCRITORA NEGRA A PUBLICAR UM LIVRO NO BRASIL. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta ROSA MARIA, A PRIMEIRA ESCRITORA NEGRA A PUBLICAR UM LIVRO NO BRASIL. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

ROSA MARIA, A PRIMEIRA ESCRITORA NEGRA A PUBLICAR UM LIVRO NO BRASIL / JOÃO SCORTECCI

Hoje soube da história de Rosa Maria Egipcíaca (autodenominada Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz, 1719 – 1771). Considerada a primeira escritora negra a publicar um livro no Brasil, foi homenageada pela Escola de Samba do Viradouro, no carnaval carioca de 2023. Rosa Maria tinha 6 anos de idade quando foi escravizada – vinda, provavelmente, do Golfo da Guiné/Benin, África. Quatro anos depois, foi vendida e prostituída, para satisfazer os desejos de donos de minas de ouro, nas cidades de Ouro Preto, Mariana e São João Del Rei, nas Minas Gerais do século XVIII. A história de Rosa Maria é documentada pelo historiador e antropólogo paulista Luiz Mott (Luiz Roberto de Barros Mott, 1946 – ), no livro Rosa Egipcíaca: uma santa africana no Brasil (Bertrand Brasil, 1993). Rosa Maria ganhou dinheiro com seu trabalho como prostituta e com a venda de pó e pedras de ouro que juntou. Foi escravizada até perto dos 30 anos de idade. Adoentada – com um estranho inchaço no estômago, provavelmente em decorrência de aborto clandestino – e tendo alucinações místicas, deixou a prostituição e se converteu ao cristianismo, passando a, voluntariamente, distribuir seus ganhos para os pobres e cuidar de meninas negras desabrigadas. Fundou e dirigiu com seus próprios recursos o “Recolhimento do Parto”, um local destinado a receber ex-prostitutas. Foi perseguida, torturada e exorcizada, dezenas de vezes. De 1751 a 1763, escondeu-se no convento dos franciscanos, no Rio de Janeiro, onde aprendeu a ler e a escrever, com auxílio do Frei Agostinho de São José, e conheceu o Padre Francisco Gonçalves Lopes – chamado de “xota-diabos”, por realizar exorcismos – que, impressionado com as visões de Rosa Maria, comprou-a e alforriou-a, passando, então, a acompanhá-la sempre. No convento, Rosa Maria escreveu sua história, intitulada Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas. Por seus gestos de bondade, foi associada pelo povo a uma santa egípcia, uma beata. As visões apocalípticas de Rosa Maria passaram a assustar a Igreja católica, que a via como uma bruxa, uma feiticeira, tornando-se, assim, alvo da Inquisição. Ela dizia ser esposa do Espírito Santo e fez uma previsão catastrófica sobre a cidade do Rio de Janeiro: seria inundada e destruída. A previsão assustou também a população, visto que, pouco tempo antes, no ano de 1755, um terremoto havia destruído a cidade de Lisboa. Rosa Maria foi sentenciada como feiticeira e levada, no ano de 1762, para a Torre do Tombo, em Portugal, acompanhada do padre franciscano que a ajudava como seu mentor espiritual. Diante do tribunal da Inquisição, Rosa Maria manteve suas previsões catastróficas sobre o Rio de Janeiro. O padre, porém, negou tudo, mas não escapou de punição e foi exilado no Algarves, no extremo sul de Portugal. Rosa Maria morreu em Lisboa, Portugal, de causas naturais, em outubro de 1771, aos 52 anos de idade. Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas, de Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz, é considerado o primeiro livro de uma escritora negra publicado no Brasil.

João Scortecci

Ler Mais