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LIVRARIA TEIXEIRA E A CAIXA REGISTRADORA / JOÃO SCORTECCI

Foi o escritor cearense Caio Porfírio Carneiro (1928 – 2017), secretário-geral da UBE – União Brasileira de escritores, na época com sede na Rua 24 de Maio, n. 250, 13º andar, próxima da Praça da República, centro da capital paulista, quem me levou para conhecer a então centenária Livraria Teixeira, na Rua Marconi, n. 40. Isso no final dos anos 1970. A Livraria Teixeira – que também era editora e publicava livros – foi fundada em 1876, pelos imigrantes portugueses Antonio Maria Teixeira e José Joaquim Teixeira. Em sua história teve herdeiros, sócios e sofreu, ao longo das décadas, diversas alterações de razão social. A livraria Teixeira & Irmão nasceu na Rua São Bento, n. 52, e funcionou também nos endereços: Avenida São João, n. 8, Rua Libero Badaró, n. 491, e, a partir de 1955, na Rua Marconi, n. 40, onde permaneceu por mais de 40 anos. Como casa editorial lançou Poesias (1888), primeiro livro de Olavo Bilac, a primeira edição de A carne (1888), de Júlio Ribeiro e Espumas Flutuantes (1889), de Castro Alves, além de livros didáticos e jurídicos. Na lista de frequentadores assíduos, constam o Imperador Dom Pedro II, o Presidente da República Washington Luís, o prefeito da capital paulista Prestes Maia, o jurista Rui Barbosa e os escritores Jorge Amado, Érico Veríssimo, José Mauro de Vasconcelos, Procópio Ferreira, Mário Lago, Lêdo Ivo, Lygia Fagundes Telles, entre outros. Atribui-se à Livraria Teixeira uma novidade no Brasil, na época: as tardes de autógrafos, seguidas de palestras e debates. Depois da morte dos irmãos Teixeira, a livraria teve, ao longo do tempo, vários sócios. Em 1910, o caixeiro Vieira Pontes (José Vieira Pontes) tornou-se gerente e sócio majoritário, destacando-se, ainda, no cenário do teatro brasileiro, como um importante teatrólogo. Vieira Pontes dirigiu a casa por 50 anos, até sua morte em 1952. Em 1944, os colaboradores Dorival Lourenço da Silva e Horácio Contier Lomelino, na casa desde 1928 e 1929, respectivamente, tornaram-se também sócios da então Livraria Teixeira, Vieira Pontes & Cia, Ltda. Em 1952, como sócio majoritário, assumiu Arthur Ferreira Girão e, mais uma vez, houve mudança de razão social, passando para "Livraria Teixeira, Ferreira Girão & Cia. Ltda.”. Com a morte de Ferreira Girão, em 1959, entraram na sociedade os também colaboradores Mário Chistovam e Carlos Cardoso Filho, desde 1933 e 1939, respectivamente, formando o quadro societário da Livraria Teixeira, Lomelino, Silva & Cia. Ltda. Na década de 1990, a livraria entrou em crise, não conseguindo pagar nem mesmo os aluguéis. Lembro-me de ter participado e colaborado em várias iniciativas para tentar salvar a casa, sem sucesso. Em 2000, fechou as portas. Em uma das vezes que visitei a Livraria Teixeira, apaixonei-me pela caixa registradora, do início do século passado, que ficava num balcão, à esquerda. Poucos meses depois, encontrei num antiquário uma caixa registradora, também do início do século XX, da marca Rena. A máquina foi restaurada – hoje faz parte do memorial da Scortecci Editora – e, vez por outra, ilustra o estande da editora, durante as bienais do livro de São Paulo.

João Scortecci