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OS LIVROS SIBILINOS E AS ÉCLOGAS DO POETA VIRGÍLIO / JOÃO SCORTECCI

Os Livros Sibilinos são uma compilação de declarações do oráculo – resposta dada por uma divindade. O rei romano Tarquínio (Lúcio Tarquínio, 535 a.C. – 496 a.C.), o Soberbo, comprou-os da Sibila de Cumas – natural de Éritras, cidade da Jônia, da atual Turquia –, que tinha, desde o nascimento, o dom da profecia e fazia suas previsões em versos. Diz a lenda que a Sibila quis vender ao imperador nove livros proféticos que continham todo o conhecimento do futuro. Ele achou alto o preço e não quis comprar. Ela queimou três, voltou com os restantes e pediu o mesmo preço. Ele recusou, e ela queimou mais três. Voltando com os últimos, pediu, novamente, o mesmo preço. Intrigado, o imperador comprou os três últimos livros, e, ao examiná-los, lamentou todo o conhecimento irremediavelmente perdido. Estes três livros foram guardados no templo de Júpiter – deus romano do dia, do céu e do trovão e o rei dos deuses na mitologia romana – e eram consultados em situações muito especiais. Em 83 a.C., o fogo destruiu os três exemplares dos Livros Sibilinos. Esses livros exerceram grande influência na religião romana até o reinado de Augusto, de 27 a.C. a 14 d.C. Durante a Idade Média – período da história da Europa entre os séculos V e XV – a Sibila de Cumas e o poeta romano Virgílio (Publio Virgílio Maro, 70 a.C. — 19 a.C.) foram considerados profetas da vinda de Cristo, pois as Éclogas desse poeta parecem conter uma profecia messiânica feita pela Sibila, o que foi apropriado pelos primeiros cristãos e, quando Dante Alighieri (1265 – 1321) escreveu a Divina Comédia, escolheu Virgílio como seu guia no Inferno. Também o pintor, escultor, poeta, anatomista e arquiteto italiano Michelangelo (1475 – 1564) deu destaque à Sibila de Cumas na Capela Sistina – situada no Palácio Apostólico, residência oficial do Papa na Cidade-Estado do Vaticano –, entre os profetas do Velho Testamento. Constantino I, o Grande (272 – 337), primeiro imperador cristão, na sua mensagem para o Primeiro Concílio de Niceia, interpretou a passagem das Éclogas, de Virgílio, como uma referência à vinda do Cristo, citando uma longa passagem dos Livros Sibilinos, contendo um acróstico em que as iniciais de uma série de versos representariam “Jesus Cristo Filho de Deus Salvador Cruz”.

João Scortecci