"Pajubá" é um dialeto ou criptoleto – linguagem de um grupo, usada para excluir ou confundir pessoas de fora do grupo – da linguagem popular, constituído da inserção em língua portuguesa de palavras e expressões provenientes de línguas africanas ocidentais, como nagô e iorubá. O pajubá (ou bajubá) é muito usado pelo chamado “povo do santo”, praticantes de religiões afro-brasileiras, como o candomblé. No Brasil, a partir de 1968, durante o período da ditadura militar, foi usado como código entre homossexuais, travestis e, posteriormente, adotado pela comunidade LGBT e simpatizantes. A palavra “pajubá” tem o significado de fofoca, novidade e notícia. Entre as palavras populares nesse criptoleto, estão: “mona” – gay efeminado; “gongar” – ato de zombar de alguém ou de alguma coisa; e “babado” – novidade. O “pajubá” reúne também características linguísticas próprias, como o vocabulário, o movimento performático do corpo, a tonalidade das palavras e o contexto cultural. Ganhou seu primeiro documento oficial em 1995, com a publicação do dicionário Diálogo de bonecas, organizado por Jovana Baby – batizado Osias Cardoso –, presidente da extinta Astral – Associação de Travestis e Liberados. Quando criança – isso nos anos 1960 – aprendi a cifra da “Língua do P”, que consiste em introduzir a consoante “P” antes de cada sílaba da palavra. Exemplo: “João gosta de comer feijão e farinha”, ficaria assim: “PEJoPEão PEgosPEta PEde PEcoPEmer PEfeiPEjão PEe PEfaPEriPEnha”. No dicionário Diálogo de bonecas até arrisquei um poema à la Drummond: “Ocó de equê, que amava Mona de equê, que amava Ocó, que amava Aracá, que não amava ocani.” Que desastre!
João Scortecci