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MOMENTOS LITERÁRIOS / MARIA MORTATTI

Momento literário era o título da revista do CEL – Centro de Estudos de Letras da FCLA – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara/SP (encampada pela Universidade Estadual Paulista em 1976), onde me licenciei em Letras – Português-Inglês, em 1975. Naquele ano, candidatei-me à presidência do CEL em uma chapa composta por cinco mulheres e um homem. Além de mim, participavam as estudantes Regina Céloia Vieira, Maria Rita Mantese, Luiz Gonzaga Marchezan, Suely do Carmo Máscia, e a bibliotecária Guaraci Maria Nogueira; no conselho editorial, estavam os professores Dante Tringali e Fernando de Carvalho e as estudantes Elisabete de Carvalho e Elizabeth Rocha Leite.

Depois de intensa campanha, nossa chapa foi eleita e, pelo que me lembro, fui a primeira mulher a assumir essa função, o que não era pouca coisa para a época. O curso de Letras, frequentado predominantemente por mulheres, era chamado de “espera marido”, preconceito que infelizmente ainda persiste. E, naqueles tempos sombrios da ditadura militar no Brasil, nós, as “moçoilas casadoiras”, éramos acusadas de “alienadas” politicamente, sobretudo pelos estudantes dos cursos de Ciências Sociais e Filosofia. A vitória de nossa chapa nos impunha, então, redobrada responsabilidade para provar competência. Assim fizemos! Entre outras atividades literárias e culturais, editamos boletins e os quatro números trimestrais da revista correspondentes ao ano de 1975. Eram publicados ensaios, resenhas e textos literários de professores e estudantes. O trabalho de edição era manual: os textos eram datilografados – fiz esse serviço quase sempre – na sede do CEL, no subsolo do pátio do campus universitário, para onde foi transferida a faculdade, que até então funcionava no prédio do centro da cidade, na Rua 3, que depois abrigou a Casa da Cultura Luís Antônio Martinez. Os volumes da revista, com média de 50 páginas de tamanho ofício, eram impressos e encadernados na gráfica da faculdade, com capa em papel cartonado e como publicação oficial da FCLA. Não me lembro da quantidade de exemplares por edição e se eram distribuídos gratuitamente. Mas eram lidos e comentados. E nos orgulhávamos da qualidade da revista e dos boletins. Guardo comigo exemplares que foram úteis para comprovar minhas primeiras atividades editoriais e poéticas, desde aqueles tempos. E também como aprendizado e inspiração para organização, edição e impressão (em mimeógrafo) de revistas e jornais com meus alunos da educação básica, para preparação de meus livros e artigos e para a realização de serviços de revisão editorial e preparação de originais para publicação. 

Revisitei o CEL em 24.08.2016, durante as atividades da campanha como candidata à Reitora da Unesp – se tivesse sido eleita, teria sido também a primeira mulher e da área de humanidades na reitoria da universidade, o que não ocorreu, apenas por causa do peso proporcional não paritário dos votos de cada segmento de eleitores. O CEL continua em funcionamento, no mesmo local, com a denominação Centro Acadêmico de Cultura e Estudos em Letras "Paulo Leminski”. Não sei se ainda editam revista e boletins. Mas as lembranças continuam vivas e foram despertadas pela leitura do post do professor e escritor Paulo Franchetti, colega de turma na graduação e depois no mestrado em Teoria Literária no Iel/Unicamp. Ele comentou sobre a publicação de seu “primogênito” paper sobre literatura portuguesa naquela revista, em 1974. Procurando o exemplar em minha estante, encontrei meu “primogênito” poético, “Cantiga”, poema inspirado em Cecília Meireles, publicado no número 9, de agosto/setembro de 1974, quando eu tinha 19 anos e estava no 3º. ano do curso. Já lá vão os primeiros 49 anos de editoria e poesia. E memoráveis momentos literários.

Maria Mortatti – 14.11. 2023