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PEDRA DE PONTA CURVADA E O “LIVRO DA COZINHA DEL REI” / JOÃO SCORTECCI

“Foi para Portugal perdeu o lugar!” é um ditado de sabedoria milenar. Confesso: não o conhecia. Significado: se algo é abandonado, alguém irá tomar posse, com certeza. O ditado teve origem nas primeiras décadas do século XX, quando muitos portugueses imigraram para o Brasil em busca de trabalho. Hoje a história se inverteu: grande número de brasileiros que foram em busca de trabalho, segurança financeira e qualidade de vida em Portugal acabaram voltando. Não era bem o que imaginavam! Com o tempo, surgiram variações do “Foi para Portugal perdeu o lugar!”, todas na mesma linha: “Foi namorar perdeu o lugar”, “Cochilou o carimbo caiu”. Coleciono – aleatoriamente – ditados populares, em especial os portugueses, que, na sua origem, contam histórias quase sempre engraçadas. Isso desde que descobri que o meu tataravô português – por parte de pai– chamado Monteiro, nascido em Avelar, freguesia portuguesa do Concelho de Ansião, distrito de Leiria, veio para o Brasil depois do grande terremoto que destruiu a cidade de Lisboa, no ano de 1755. Monteiro embarcou para a Capitania do Ceará, fugindo das perseguições religiosas promovidas pelo poderoso primeiro-ministro português Marquês de Pombal, durante o reinado de D. José I (1750 – 1777), conhecido na história como “Período Pombalino”. Monteiro, cristão-novo, fixou residência no lote compreendido da foz do Rio Jaguaribe à foz do Rio Mundaú, região habitada pelos índios Cariris. Tornou-se amigo da tribo, recebendo de presente uma esposa índia. A jovem – uma menina de 13 anos – não queria se casar. Tentou fugir. Foi laçada e amarrada no lombo de uma montaria e levada por Monteiro para a região onde hoje está localizada a cidade de Quixadá, no coração do Ceará. Uma expressão portuguesa que julgo interessante é “meia-tigela”, da época da monarquia portuguesa. Ao povo da Corte – criados, pajens, oficiais – que não morava no palácio servia-se comida, observando as rações previstas no “Livro da Cozinha del Rei”. O manual estipulava a porção de cada um, de acordo com a importância do serviço que prestava. E assim alguns ganhavam tigela inteira; outros, meia tigela. Aqui cabe uma variação do ditado popular “Vivendo e aprendendo”, difundida, entre outros, pelo escritor e crítico literário mineiro Fábio Lucas: “Morrendo e aprendendo!” Tenho dito. 

João Scortecci