“Alcunha” – do árabe “al-kunya”: apelido que substitui um nome próprio. São também sinônimos de “alcunha” as palavras “apodo”, “antonomásia”, “cognome” e “epíteto”. Alcunhado de “Boca do Inferno”, o poeta e advogado luso-brasileiro Gregório de Matos (Gregório de Matos Guerra, 1636 – 1696) é considerado um dos maiores poetas do Barroco (estilo marcado pelo rebuscamento, requinte e exagero de adornos) e o mais importante poeta satírico da literatura em língua portuguesa do Brasil colonial. Ganhou o “cognome” por sua ousadia em criticar padres, freiras, a Igreja católica e autoridades políticas: “Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,/ E é que quem o dinheiro nos arranca,/ Nos arranca as mãos, a língua, os olhos.” Gregório de Matos é também considerado um poeta “pornográfico” e um poeta maldito (“poète maudit”), praticante da desobediência absoluta, da rejeição a toda e qualquer regra imposta e da recusa em pertencer a qualquer ideologia instituída. Em 1685, o promotor eclesiástico da Bahia o denunciou ao tribunal da Inquisição. Em 1694 foi deportado para Angola, onde permaneceu por um ano. Voltou ao Brasil e foi morar no Recife/PE, com a proibição de não pisar na Bahia. Escreveu: “Quanto mais que é escusado/ na boca o cravo: porque/ prefere, como se vê/ na cor todo o nacarado:/ e o mais subido encarnado/ é de vossa boca escravo:/ não vos fez nenhum agravo/ ele de vos dar querela,/ que menina, que é tão bela,/ sempre tem boca de cravo.” Gregório de Matos morreu no Recife, aos 59 anos de idade, vitimado por uma febre contraída em Angola.
João Scortecci