O poeta Drummond, antes do sol e aos olhos do tempo, ligou-me, tristonho, reclamando da vida, assim que soube do que fizeram com sua estátua da orla de Copacabana, zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Estava deprimido e chutando pedras. Estava travestido de “José” e vazio, vencido pelo vasto mundo que é a vida. Pobre poeta Drummond! Falou-me de Itabira – quase nada – da sua terra natal, da sua infância, dos amigos que se foram e das pedras agudas que habitam a imortalidade. “Drummond, o que aconteceu?”, perguntei-lhe. “Roubaram-me os óculos. Assim não consigo ver as palavras, os amores, o sentimento do mundo...", disse-me. Senti sua dor. “Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas”, resmungou. No silêncio do claro enigma, poetamos perdas. Depois, desligou o telefone e partiu – veloz – a galope.
João Scortecci