Maldito cativeiro inacabado! Disse-me: "Faltou-me o tempo que não tinha!". O poeta francês Baudelaire (Charles-Pierre Baudelaire, 1821 – 1867) morreu no dia 31 de agosto de 1867. É considerado um dos precursores do simbolismo, movimento literário da poesia e das outras artes que surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao realismo, ao naturalismo e ao positivismo da época. O seu livro "Les fleurs du mal" ("As flores do mal", 1857) é considerado um marco da poesia moderna. A obra, considerada na época imoral, foi atacada violentamente pela imprensa, censurada pela justiça, multada – cabendo ao escritor, 300 francos, e à editora, 100 francos – e foi recolhida sob acusação de insulto aos bons costumes. E mais, seis poemas de "As Flores do Mal" tiveram de ser suprimidos da publicação, condição sem a qual a obra não poderia voltar a circular. Foram eles: "O ideal", "Hino à beleza", "O perfume exótico", "O cabelo", "Um fantasma" e "O gato". Na solitude do espírito, resfolegou: "Quem não sabe povoar sua solidão, também não saberá ficar sozinho em meio a uma multidão!". Uma nova edição, acrescida de 35 poemas, foi publicada em 1861. E somente em 1924, ganhou edição completa, com os seis poemas censurados. Baudelaire, pôde, então, deixar o maldito cativeiro. Em 31 de maio de 1949, 92 anos após sua morte, a Sociedade dos Homens de Letras, num processo diante da Corte de Cassação – tribunal de alta instância – reabilitou Charles Baudelaire e seus editores. Baudelaire morreu de sífilis, em Paris, aos 46 anos de idade, sem a realização em vida do projeto de uma edição final de "As flores do Mal", como era o seu desejo. Escreveu: “Ah! pobre! O veneno e o punhal disseram-me de ar zombeteiro: Ninguém te livrará afinal de teu maldito cativeiro.". E nele, espírito maldito, voou livre, no rabo do gato, descabelado, perfumado, imortal fantasma, no Jardim das Flores do Mal. E lá está.
João Scortecci