"Encheiridion" (do grego "enkheiridion" / "em-mão") significa livro portátil, livro de bolso: aceito, interessante, mas incompreendido por muitos. Encontrei o termo "encheiridion" lendo a biografia do editor e tipógrafo italiano Aldo Manuzio (Aldo Pio Manucio, 1449 – 1515), a quem se atribui a “invenção” do livro de bolso, sendo, portanto, considerado o precursor do livro de bolso moderno. A definição de livro de bolso – nos dicionários e na Internet – é genérica, vaga, valendo-se, determinantemente, quanto ao formato e ponto. Formatos mais usados: 10,5x14,8cm, 11x18cm e 12x18cm. Na coleção Primeiros Passos, sucesso editorial da Editora Brasiliense, dos anos 1980, foi usado o formato 11,5x16cm. No Brasil, hoje, as editoras e gráficas usam, quase sempre, o formato 12x 18cm, com mancha de 9,8cm, o dobro das medidas de uma coluna padrão de jornal. Confesso: tenho visto de tudo. As características técnicas de um livro de bolso – capa flexível, papel comum, preço popular – deixaram, praticamente, de existir. Hoje, o mercado publica livros de bolso com encadernação de luxo, capa dura, papel de qualidade, reserva de verniz e relevo. No século XIX, na Europa, já existiam edições baratas, como as da editora alemã Tauchnitz e a inglesa Routledge’s Railway Library, com publicações voltadas para viajantes, mas o "boom" veio depois, em 1931, com a editora alemã Albatross Books, em 1935, com a editora britânica Penguin Books, e, em 1939, com a americana Pocket Books. Durante a Segunda Guerra Mundial, estima-se que a Alemanha tenha queimado mais de cem milhões de livros. As forças aliadas, por sua vez, apostaram no poder de entretenimento dos livros, para que seus soldados suportassem melhor a guerra, e decidiram, então, enviar-lhes companheiros literários. Foi assim que o livro de bolso, na época batizado de “Edições para as Forças Armadas” ganhou escala, com tamanho e peso reduzidos, para que os soldados pudessem guardá-los nos bolsos dos uniformes ou em suas mochilas. Os livros de bolso – até hoje – sofrem preconceito por parte de muitos: autores, editores, livreiros e leitores. As razões? Muitas. Listá-las, algo impossível. Já escutei de tudo. Na minha opinião nada conclusivo, que justifique a aversão. O tipógrafo Aldo Manuzio imprimiu cerca de 150 títulos. Inovou suas edições com o uso da letra cursiva, estilo de escrita manual. Desenvolveu o conceito de coleções temáticas, de identidade e coesão visual para livros. Contribuiu para a padronização do uso da pontuação, incluindo a vírgula e o ponto e vírgula e, criou, ainda, um Conselho Editorial, responsável pelas diretrizes básicas de suas publicações. Em 1494, em Veneza, junto com o tipógrafo e editor italiano Andrea Torresano (1451 – 1528), fundou a Aldina Press (Prensa Aldina), onde foram publicadas as célebres edições aldinas dos clássicos. A Prensa Aldina é famosa na história da tipografia, entre outras coisas, pela introdução do itálico. Aldo Manucio dedicou a parte final de sua vida à publicação e disseminação de textos raros e à preservação de manuscritos gregos. Acreditava que obras de autores como o filósofo Aristóteles e o dramaturgo Aristófanes, em sua forma original em grego, eram mais puras e fiéis, sem as interferências de traduções. Tudo isso lhe rendeu respeitabilidade como editor e tipógrafo e um lugar de destaque na história do livro.
João Scortecci