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OS INCUNÁBULOS / JOÃO SCORTECCI

Incunábulo (palavra que significa "começo", "origem", "berço") era um livro impresso com tipos móveis entre 1455 – data aproximada da publicação da Bíblia de Gutenberg – até 1500. Sua origem vem da expressão latina "in cuna" ("no berço"), referindo-se assim ao berço da tipografia. Os incunábulos imitavam os manuscritos. Muitos incunábulos não tinham páginas de rosto, e em poucos deles há indicação de onde e por quem foram impressos. Demorou 50 anos para que o livro impresso passasse a ter suas próprias características, abandonando, paulatinamente, as de livro manuscrito. Existem incunábulos em 18 idiomas: latim, alemão, italiano, francês, holandês, espanhol, inglês, hebreu, catalão, checo, grego, eslavo, português, sueco, bretão, dinamarquês, frísio e sardo. Foram identificados cerca de mil tipógrafos e seus respectivos livros. Um, em cada dez, era ilustrado com gravuras feitas em madeira ou metal. Outros tinham a letra inicial do capítulo manuscrita artisticamente, após a impressão. Do incunábulo mais comum, Liber Chronicarum – conhecido como Crônica de Nuremberg –, restam 1250 cópias. O autor, Hartmann Schedel (1440 – 1514), médico, humanista e historiador, foi um dos primeiros cartógrafos a fazer uso da impressão, inventada por Johannes Gutenberg em 1493. Da Bíblia de Gutenberg – o primeiro e certamente o mais famoso e valioso dos incunábulos – restam 48 cópias conhecidas. Há registro de cerca de 28 mil títulos desse tipo de livro, a maior parte usando letras góticas. Os exemplares conhecidos no Brasil derivam, em sua maioria, da vinda da Família Real portuguesa em 1808 e se encontram na Biblioteca Nacional, na cidade do Rio de Janeiro. Outros foram trazidos por congregações religiosas – como o da Biblioteca do Mosteiro de São Bento, na cidade de São Paulo – ou comprados de particulares – como os nove exemplares da Biblioteca Mário de Andrade (fundada em 1925), também na capital paulista. É de 1477 o exemplar mais antigo pertencente à Biblioteca Mário de Andrade, o da Suma Teológica, de Santo Tomás de Aquino. Nessa biblioteca há outros sete incunábulos, entre eles: um exemplar da Bíblia de Gutenberg (1492) e dois exemplares da Crônica de Nuremberg (1493), que descreve a história do mundo, com cerca de 1.600 xilogravuras, considerado o maior livro ilustrado de sua época.

João Scortecci

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“ORBIS PICTUS”, DE COMENIUS: O PRIMEIRO LIVRO ILUSTRADO PARA CRIANÇAS / MARIA MORTATTI

O “pai da pedagogia moderna” e também o “pai do livro ilustrado para crianças”, Jan Amós Comenius (28.03.1592 – 15.11.1670), nasceu em Nivnice, Morávia, hoje República Checa, e faleceu em Amsterdão, Holanda. De família protestante, seguidora da Igreja dos Irmãos Morávios, concluiu estudos na Universidade de Heidelberg, na Alemanha, e retornou à terra natal, onde foi nomeado pastor, reitor das escolas da Congregação e depois bispo, assumiu o ensino do latim na escola da cidade de Prerov e posteriormente assumiu o cargo de reitor da escola dos Irmãos Morávios. Quando seu país entrou na Guerra dos Trinta Anos, iniciada em 1618, e se tornou proibida a permanência de não católicos, autoexilou-se na Polônia e depois morou em várias regiões da Europa, tendo adquirido experiência como professor, sempre empenhado na reforma do pensamento educacional da época. Defendia a educação enciclopédica, com unificação de todo o conhecimento humano, e um sistema universal de educação, conforme ordem da natureza, com oportunidades para todos – meninos e meninas, ricos e pobres – e adaptações dos graus de complexidade às idades das crianças, acompanhando a emergência dos sentimentos de infância e família na modernidade. Defendia, ainda, o método empírico de explorar o mundo e o ensino das línguas em vernáculo, em vez de serem todas, inclusive a língua materna, ensinadas em latim, como ocorria até sua época. Deixou mais de 200 obras, entre as quais: Didática Magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos (1628 – 1632), Janua linguarum (Porta das línguas) (1631); Orbis sensualium pictus (1685). 

O primeiro livro ilustrado destinado às crianças, o revolucionário Orbis sensualium pictus ("O mundo sensível em imagens"/"O mundo ilustrado"), conhecido também como Orbis pictus, foi idealizado em 1653, com finalidade de auxiliar o ensino da língua latina por meio de ilustrações, concretizando teorias pedagógicas do autor. O livro está organizado em 150 capítulos, abrangendo diferentes assuntos, como natureza, botânica, zoologia, religião, seres humanos e suas atividades, ilustrados por xilogravuras – gravuras em cobre –, descritas pelas palavras que representam, contrapondo-se ao ensino da leitura pelo método da silabação, comum na época. Inicialmente publicado em latim e alemão, na maioria das edições posteriores as palavras são apresentadas em latim e na língua materna da criança.

As ilustrações por meio de gravuras já eram conhecidas e utilizadas nos incunábulos, depois da invenção da prensa de tipos móveis, no século XV, por Johannes Gutenberg – que revolucionou a impressão e a disseminação de livros – e foram aperfeiçoadas nos séculos seguintes. Assim como na terra natal de Comenius – onde um tipógrafo anônimo publicou, em 1468, o primeiro impresso em língua tcheca –, já havia tipografia também na Alemanha e na cidade de Nuremberg, onde, somente em 1657, foi publicado Orbis pictus, porque em Sárospatak, Hungria, onde o autor morava na época, não havia ninguém hábil o suficiente para fazer as gravuras. Foi nesse contexto da revolução tecnológica de Gutenberg associadamente à revolução educacional de Comenius, de ensinar tudo a todos, com apoio de imagens e em vernáculo, que o primeiro livro ilustrado para crianças rapidamente se tornou popular na Europa, com republicações e traduções para vários idiomas e uma estimativa de cerca de 250 edições diferentes. Ainda hoje se encontram exemplares e reedições.

Jan Amós Comenius, o fundador da pedagogia moderna, influenciou decisivamente o pensamento educacional no Ocidente, e seu legado está presente na obra de importantes filósofos e pedagogos, até os dias atuais. Em reconhecimento à sua importância em prol da paz mundial e da harmonia entre os povos, a Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura instituiu, em 1992, a Medalha Comenius, outorgada bianualmente a personalidades que se destacam no campo educacional, como o educador brasileiro Paulo Freire, que a recebeu em 1994. 

Orbis Pictus, o mais antigo livro ilustrado com xilogravuras e voltado especificamente para crianças, tornou-se modelo e referência para outros livros infantis ilustrados, contribuindo para o desenvolvimento dos livros escolares e de literatura infantil, o advento dos "ilustrautores" e os ininterruptos e acelerados avanços da produção gráfica e editorial, não apenas para esse público leitor. 

Maria Mortatti 

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