Pesquisar

D. DINIS, O REI TROVADOR, E O CANCIONEIRO COLOCCI-BRANCUTI / JOÃO SCORTECCI

O poeta, filólogo românico e humanista da Renascença, Angelo Colocci (1467 – 1549), foi secretário do Papa Leão X e responsável pela coletânea Cancioneiro Colocci-Brancuti, onde estão reunidos poemas do lirismo trovadoresco galaico-português, constituído de cantigas de amigo, cantigas de amor, cantigas de escárnio e maldizer. A obra foi compilada na Itália, por volta de 1525/1526, reunindo 1664 composições, de 150 menestréis e trovadores, de um arco cronológico que vai do fim do século XII até meados do século XIV. O manuscrito circulou – durante séculos – nas mãos do conde Brancuti (Paolo Brancuti di Cagli), de Ancona, Itália, e do filólogo italiano, Ernesto Monaci (1844 – 1918). Em 1924, foi adquirido pelo Estado Português e depositado na Biblioteca Nacional de Lisboa, tendo recebido o nome pelo qual é hoje conhecido: Cancioneiro da Biblioteca Nacional. Nele, está reunido quase todo o material recolhido no Cancioneiro da Vaticana (coletânea medieval de 1200 cantigas) e muitos outros. O Cancioneiro da Biblioteca Nacional foi escrito em seis diferentes estilos caligráficos, com predominância da letra itálica chanceleresca e letra bastarda cursiva. Das 1664 composições originais, apenas 1560 chegaram aos dias atuais. Entre os trovadores presentes, destacam-se Sancho I, Pedro Conde de Barcelos, Pay Soares de Taveirós, Joham Garcia de Guylhade, Ayras Nunes, Martim Codax e D. Dinis (1261 – 1325), Rei de Portugal e do Algarve, de 1279 até à sua morte. D. Dinis foi grande amante das artes e letras. Tendo sido um famoso trovador, cultivou as cantigas de amigo e a sátira, contribuindo para o desenvolvimento da poesia trovadoresca na Península Ibérica. “O que vos nunca cuidei a dizer” é uma das mais apreciadas cantigas de D. Dinis: “Os diré, con tristeza, lo que nunca pensé/que os diría, señora,/porque veo que por vos muero,/porque sabéis que nunca os hablé/de cómo me mataba vuestro amor:/porque sabéis bien que de otra señora/yo no sentía ni siento temor (...)".

João Scortecci