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CANTIGUINHA PARA CECÍLIA MEIRELES / JOÃO SCORTECCI

Na pilha de livros que chegam diariamente como doação para o “Projeto Livros para Todos”, encontrei um exemplar de As palavras voam, reunião de poemas da incrível Cecília Meireles (1901 – 1964) selecionados e organizados pelo escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós (1944 – 2012) e publicados pela Global Editora, do amigo Luiz Alves Júnior – guerreiro e parceiro de tantas lutas. Obra belíssima, edição de 2013, 4ª. reimpressão. Duas observações: o fascínio de Cecília Meireles pelos tipos de composições poéticas denominadas “Cantiga” e “Canção”, também títulos de 13 dos 55 poemas reunidos no livro. Destaque para “Cantiguinha”: “Brota esta lágrima e cai./Vem de mim, mas não é minha /Percebe-se que caminha, sem que se saiba aonde vai.” (p. 29) É um livro de rápida leitura, como devem ser os livros de poesia, penso. Foi o que fiz. Ler Cecília Meireles é musical e lírico. Bartolomeu Campos de Queirós, no prefácio da obra, escreve: “A poeta soube, como ninguém, que o homem é verbo e sua vida é conjugável: é passado, é presente, é futuro.” A poesia salva! Antes de finalizar o post de hoje – não estava na lista – recomendo o poema “Inibição”: “Vou cantar uma cantiga,/vou cantar – e me detenho: porque sempre alguma coisa/minha voz está prendendo./Pergunto à secreta Música/porque falha o meu desejo,/porque a voz é proibida/ao gosto do meu intento./E em perguntar me resigno, me submeto e me convenço./ Será tardia, a cantiga?/Ou ainda não será tempo...” (p. 113) Minha mãe, Nilce Scortecci, falecida em 2003, autora de três livros de poesia (Sentimentos idos e vividos, Magia da palavra e Reinício) que, em 2021, reeditei na antologia Todas as palavras, dizia sempre: “João, toda poesia começa sem sentido – quase mistério – e, depois de várias leituras, diz tudo e se abre ao mundo.” Nilce tem razão, é “mamãe sabe tudo”. Em 2023, completam-se 20 anos do seu falecimento. A vida é veloz! Ficaram saudade e muitas lições de vida e amor. Cecília Meireles – sem que se saiba aonde vai – é capaz de tudo: ou ainda não será tempo?

João Scortecci