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PÉ DE CEBOLINHA VERDE E UM LUGAR PARA TODAS AS COISAS / JOÃO SCORTECCI

Nos anos 1960 – menino de tudo – resolvi plantar um maço de cebolinha verde no quintal de casa. “Planta que nasce novamente!” Foi o que me disseram. Curioso que sou, obedeci. Peguei uma enxada e comecei a cavar e a revirar a terra. Na verdade, cavei um buraco, dos grandes. Papai Luiz – que apareceu do nada – perguntou-me: “O que você está fazendo?”. “Uma horta!”, respondi. “E esse buraco?” Não respondi. Continuei cavando e jogando a terra no monte, ao lado. Ele se acocorou e – pacientemente – esperou por mim, até eu respirar e ouvir. “Filho, duas coisas são importantes na vida. A primeira é de ordem prática, para todas as coisas que você for fazer. Escolha o propósito, execute a tarefa e, depois, conclua com êxito”. Interessante, pensei. “E a segunda?” “A segunda é de ordem moral: antes de tirar algo do seu lugar, certifique-se, primeiro, onde irá colocá-la!”. Papai Luiz se levantou e, em silêncio, partiu. Eu, reflexivo, com a enxada, devolvi toda a terra de volta para o buraco. Plantei o maço de cebolinha verde, molhei a terra e a entreguei ao deus Sol, na sorte das minhas lembranças. Pesquisando sobre algoritmos, encontrei a biografia do matemático, astrônomo, astrólogo, geógrafo e escritor persa Alcuarismi (Abu Abdalá Maomé ibne Muça ibne Alcuarismi, 780 – 850), erudito na Casa da Sabedoria (ou Casa do Saber), biblioteca e centro de traduções estabelecido à época do Califado Abássida, em Bagdá, no Iraque. No seu livro “Da Restauração e do Balanceamento”, Alcuarismi apresentou a primeira solução sistemática das equações lineares e quadráticas. É considerado o fundador da Álgebra – junto ao matemático grego Diofante, de Alexandria. O radical das palavras “algarismo” e “algoritmo” vem de “algoritmi”, a forma latina do nome do erudito persa. Além do vocábulo português “algarismo”, seu nome deu origem ao espanhol “guarismo”, que, ao passar para o francês, tornou-se “logarithme” e deu origem ao termo moderno “algoritmo”. O conceito de "catálogo de biblioteca" foi introduzido nessa e em outras bibliotecas islâmicas medievais, nas quais os livros se organizavam por gêneros e categorias específicas. A incógnita nas equações algébricas era denominada pelos matemáticos muçulmanos como “xay” (“coisa”), notadamente na álgebra de Ômar Khayyam, que, ao ser transcrita “xay” pelos espanhóis, deu origem ao “X” da álgebra moderna. A Casa do Saber foi destruída durante o cerco de Bagdá, em 1258, pelos mongóis. Antes do cerco, no entanto, perto de 400 mil manuscritos foram resgatados pelo polímata persa Tuci (Naceradim de Tus, 1201 – 1274) e levados para Maragha, no Irã. Em tempo: “Pai, quem disse isso?” “Um matemático russo!”, foi o que ele respondeu, na época. Quando quis saber mais, papai Luiz já estava com demência avançada e liberto do lugar de todas as coisas.

João Scortecci