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O POETA TARAS E AS BANDURAS DA UCRÂNIA / JOÃO SCORTECCI

O poeta e pintor ucraniano Taras Shevchenko nasceu em 9 de março de 1814, numa família de servos, na Província de Kiev – durante o Império Russo –, hoje capital da Ucrânia. Foi fundador da literatura moderna ucraniana. Sua maior obra foi a coletânea poética Kobzar, publicada no ano de 1840, em São Petersburgo. Depois da publicação da obra, Taras foi apelidado de “O Kobzar” – contador de histórias, criador de versos, compositor de música, historiador oral itinerante, que canta com seu próprio acompanhamento, tocado em uma “bandura”, instrumento popular ucraniano, de cordas dedilhadas. Ficou órfão aos 11 anos de idade e se tornou propriedade do aristocrata e militar russo, Pavel Engelhardt (1798 – 1849). Em 5 de maio de 1838, com a ajuda do pintor e professor russo Karl Briullov (1799 – 1852), que doou a uma loteria um quadro do retrato do famoso poeta russo Vasily Zhukovsky (1783 –1852), com o objetivo de arrecadar fundos, Taras Shevchenko conseguiu sua liberdade. Nesse mesmo ano, foi aceito para estudar na Academia Imperial de Artes. No ano seguinte, foi agraciado com uma medalha de prata e, em março de 1845, o Conselho da Academia da Arte atribuiu-lhe o título de "artista", honraria para poucos. Em 5 de abril de 1847, foi preso durante o processo da “Irmandade dos Santos Cirilo e Metódio”, organização política que pretendia transformar o Império Russo numa federação de estados eslavos. A polícia russa encontrou com Shevchenko o poema "Sonho", que atacava a monarquia russa, satirizava o Czar Nicolau I e sua esposa, a rainha Alexandra. Foi, então, enviado à prisão em São Petersburgo e depois mandado para o exílio na base militar russa de Orsk, junto aos montes Urais, ficando, ainda, proibido de “escrever, desenhar e pintar”. Dez anos depois, em 1857, voltou do exílio e fixou residência em Nijni-Novgorod, Distrito Federal do Volga, no sul da Rússia Europeia. Em maio de 1859, recebeu a permissão para visitar a Ucrânia. Morreu de ascite, popularmente conhecido como “barriga d'água”, em 10 de março de 1861, aos 47 anos de idade. Shevchenko foi sepultado no Cemitério Smolensk, em São Petersburgo e, meses depois, transferido para a cidade de Kaniv, na Ucrânia, como era seu desejo expresso no poema "Testamento”: “É-me indiferente”, um de seus poemas mais conhecidos, é marcado pelo profundo patriotismo: “É-me indiferente, se vou / Eu viver na Ucrânia, ou não / Se alguém se lembrará, ou esquecer-me-á / Na neve do exílio - / É-me mesmo indiferente. / Sem liberdade cresci entre os desconhecidos,/ E, sem ser chorado pelos meus,/ Sem liberdade, chorando, morrerei,/ E tudo levarei comigo,/ Nem uma pequena mancha deixarei / Na nossa gloriosa Ucrânia, / Na nossa – mas que não é a nossa terra. / E nem se lembrarão o pai com o filho,/ Nem dirá ao filho: “Reza,/ reza, filho: pela Ucrânia / Que outrora foi torturada / É-me indiferente, se vai / Esse filho orar, ou não…/ Mas não me é indiferente,/ Como a Ucrânia é adormentada / Por pessoas más, mentirosas, e no fogo,/ Já roubada, a acordarão…/ Oh, isso já não me é indiferente.”

João Scortecci